segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

O presente

Mas como posso eu definir o presente,

se é o resultado dos infinitos pólos do tempo?

No jogo da vida, ter a liberdade de escolher,

em nada significa que somos livres. 

Puxamos por uma carta no baralho confuso do acaso, 

sabendo à partida que “ter é perder”.

Mudamos de baralho, mas não mudamos de confusão, 

mudamos a táctica, 

mas puxamos com a mesma mão. 

segunda-feira, 4 de julho de 2022

No Agroal

Do murmúrio das águas nascem ondas sedentas de luz. No bailado dos reflexos sonoros o meu espírito abandonado em unissonância mergulha as suas raízes na natureza dessa infinita harmonia. A beleza de fora chama pela minha natureza de dentro e da união fala o criador.

quinta-feira, 2 de junho de 2022

Não sou nada

A psicologia diz-me que, mais do que o estudo da alma, ela é o estudo do ego. Escrever algo de novo é querer destacar-me do outro e tornar-me diferente. Mas não há nada que me venha que o outro não tenha. Vivo a lutar para sair da manada, porém não sou nada debaixo do manto do tudo. Uso as palavras modeladas pelas civilizações passadas, sento-me na cadeira que provêm da cadeia das artes dos outros, uso o lápis que, nos meus dedos tácteis, é-me alheio ao saber que o fez, e no papel saboreio como o mel o silêncio sonoro vindo da queda duma ideia posta nele. 

domingo, 8 de maio de 2022

Sem força nem coragem

A irresistível busca do prazer, alumia-se no clarão da lembrança do esquecimento, quando se esgota força e coragem para criar e deixamos a alma agarra-se à matéria para se negar. Que será a vida se não a natureza tornada consciente da sua própria existência. Os meus sentimentos são o produto do mundo e por eles o mundo se mira.

sábado, 5 de fevereiro de 2022

Intuição

Como quem 

se atira para mergulhar 

na água fria 

e ainda se encontra no ar, 

atirei o espírito 

para o mar 

da intuição.

terça-feira, 4 de janeiro de 2022

Viver

Viver não é olhar para o “eu”, mas reconhecer o princípio vital que se manifesta através dele. A vida vai bem além de qualquer valor humano porque a sua origem e fim se dissolvem no mesmo infinito. A natureza tem no seu seio um princípio organizador que parece provir da unidade: “Vontade-Consciência”.

Ausência

Como é possível abraçar o mundo e sentir-se ausente? Que fraqueza faz da vontade um pedaço de nada roubado ao momento? Quanto mais s...