A meditação é poesia sem tema
Um puro sentimento nascido do vácuo
Que se dispersa num mundo sem cena
Longe da definição que nos torna gago
Ela é a entrega de quem deixa fazer
Num movimento de potente fluidez
Onde a vida é o facto a acontecer
Que liberta o ser da avidez
Não há meditação sem coração
Nem consciência sem subconsciente
Sem núcleo para quê realização
Todo o elemento é instrumento
A existência faz, mas não realiza
O visível e o invisível, de todas as coisas
São as margens da ponte que eterniza
O gesto e o pensamento na substância da causa
Que realidade usa o meu ser para criar?
Sei que sou instrumento, mas na mão de quem?
Sondo o enigma com a capacidade de sonhar
Mas não será infantil imaginar que é alguém?
A consciência que é espaço aberto sobre a origem
Usa a nave do mental para alcançar o transcendental
E, quando emerge no eterno não dito, ela cinge
A verdade intemporal que faz da realização o ponto final