quarta-feira, 27 de novembro de 2019

A sombra da mente

Quando a mente se inclina sobre o objecto de observação ela lhe faz sombra e lhe rouba o reflexo que sobre ele faz a luz do conhecimento. À sombra da sua visão, ela percebe os contornos da realidade inconsciente da luz que se derrama da imensidade. Tudo o que vem de fora reforça por dentro a ideia de que o “eu” está separado do resto.

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Arrumar as ideias


Tirando as palavras de um espaço sem tela
                 Arrumam-se as ideias relativas no branco papel
   Tirar para pôr
                     Pôr para ler
                                    Ler para sentir
                                                   Sentir para recordar
                                                                       Recordar para acordar
                                                                                                Acordar para viver
                                                                                                              Viver para morrer
   E da morte advém o nascimento, de onde se pode
   Tirar para pôr
                     Pôr para ler
                                     Ler para sentir.....

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

A contrariedade


A contrariedade faz da emoção uma rocha na praia lisa do bem-estar. Chocam nela as ondas da vida criando redemoinhos de confusões e crateras de compensações.

sábado, 27 de abril de 2019

Consciência


Todo o movimento no espaço e no tempo serve a consciência absoluta. Impessoal, ela abraça tudo sem nada conter – nem pode ser contida. Não há sujeito por onde emane, nem objecto que a reflicta. Ela “É”, e por tudo ser, não  quem a possa ter. A consciência absoluta em nada se assemelha à consciência individual, pelo facto de que tudo no indivíduo assenta no ter. A negação de tudo o que se pode ter é chamada morte. Essa “não existência” é o “Ser” absoluto. A única forma de saber é deixar de conhecer. O homem é muito diferente da formiga, no entantodevido ao seu comportamento, percorre o mesmo campo. Se aquilo que nos move física e psiquicamente provém da causa primordial e da sua substância, actuar é revelar, porque não há nada que possa vir a ser que não esteja já contido no “Ser”. As infinitas probabilidades de desenvolvimento de uma planta, a direcção que toma o animal, a decisão fatal que muda o destino do homem, as influências de uma galáxia sobre outra representam a potência do absoluto. A história da civilização humana é uma brecha na matriz substancial do tudo. 

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Pequena reflexão

Usando termos globais e conceitos relativos, é fácil enganar a filosofia. Quando se fala de humanidade, de universalidade ou de sociedade, não significa que os conceitos se apliquem ao indivíduo. Cada um, conforme o seu nascimento, condições ambientais, sexo e situação social, é em si um universo. Por consequência, toda a filosofia deveria ser reformulada para poder tomar em consideração as condições existenciais de cada ser. Contudo, acredito na existência de um “fio” comum que entrelaça o tecido humano e encaminha as forças vitais para uma mesma direcção. Acredito num substrato psicológico que contém a soma das experiências humanas, e numa consciência individual não separada da consciência colectiva. A verdadeira filosofia tem a sua aplicação no dia-a-dia. É bonito falar de espiritualidade, mas que lugar irá ela ocupar na vida da pessoa cuja fome a enfraquece e cuja ânsia de não ter pão a empobrece? Que lugar ocupa a espiritualidade na pessoa que tem de viver pela ditadura do caos familiar? Que resta ao indivíduo oprimido lançado para dentro de uma sociedade desumana? A única liberdade no seio da individualidade está na aceitação de “ser”, quando a atenção, orientada para o receptor das informações relativas às condições passageiras, faz do individuo o instrumento de experiência. Adquirir conhecimento e mudar o comportamento não é sinónimo de liberdade. Uma acção baseada sobre um modelo nega o potencial criador quando se limita à simples repetição. O espírito livre tem as suas certezas enraizadas na única realidade indivisível: o núcleo coerente onde se fundem a existência, a consciência e a experiência.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O conhecimento

O conhecimento não deveria ser
somente a lembrança daquilo que nos foi ensinado.
O dever universal consiste em transcender
a mente
e, na transparência da pura consciência,
fazer corpo com a omnisciência.
O brotar do acto virá então
pelo contacto com a fonte de sabedoria sem tempo.
A fonte que nos anima vem de uma dimensão
muito mais vasta do que o “eu” que por ela actua.
O impulso que me empurra
a escrever ,
não o posso descrever. ...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A carroça


Quando me sinto ser como toda a gente,
vivo como se a realidade nada tivesse a ver com o presente.
Como a cenoura frente ao burro,
move-se-me o corpo pelo desejo que tenho na mente.
Quanto mais puxo a carroça para a frente, mais gira a roda na mente.
Movimento circular que me faz estagnar.
O ruído do homem, é o ruído da fome.
Não sei o que conheço, mas sei que o conhecimento me conhece.
Vivo no mar da omnisciência agarrado ao cais da ignorância.
As vogais pelas quais vibra o meu nome são por essência universais.

Ausência

Como é possível abraçar o mundo e sentir-se ausente? Que fraqueza faz da vontade um pedaço de nada roubado ao momento? Quanto mais s...